(continuação)
Quando os filhos chegaram ao acampamento ficaram muito admirados e perguntaram:
- Quem arrumou tudo isto?
Sahúli contou-lhe o que se tinha passado,
que tinha recuperado a vista por instantes. Os filhos disseram-lhe então:
- Se esse amigo voltar, quando ele te
pedir para dizeres escuridão tu não dizes e em vez disso vais dizer claridade.
E vamos ver o que acontece!
Fez-se noite e eles deitaram-se.
E de manhã lá foram para a floresta caçar. O pai mais uma vez ficou no
acampamento até que voltou a ouvir: nji!nji!
Sahúli disse-lhe:
- Sê bem vindo, amigo.
O outro responde-lhe:
- Obrigado amigo!
E perguntou-lhe:
- Ó amigo! De que sofres? Dos olhos ou do
coração?
Sahúli disse:
- Estou cego dos olhos!
E o amigo pede-lhe para ele dizer “
Claridade”. Sahúli mais uma vez disse a palavra e os seus olhos abriram-se.
Sahúli preparou novamente um pouco de tabaco, acendeu-o e ofereceu-lho. Depois
de o terem fumado, começaram a fazer o trabalho deles. Sahúli não se tinha
esquecido do conselho dos filhos. Tirou comida e ofereceu-a ao amigo. E tudo
correu bem até ao fim. Até que o outro se preparava para ir embora. E
perguntou a Sahúli:
- Ó Sahúli! Estás cego dos olhos ou do
coração?!
Ele respondeu dizendo:
- Os olhos estão cegos! O coração está
são!
E o outro:
- Ora diz “Escuridão”!
Mas, Sahúli, lembrando-se do que os seus
filhos lhe tinham dito, respondeu:
- “Claridade”.
E eis que ele continuou a ver!
O amigo pegou numa mezinha que trazia consigo, aplicou-a nos olhos do Sahúli e
eles ficarão sãos. Despediram-se, fizeram cargas de carne para o outro e ele
partiu.
Quando os filhos voltaram, ficaram muito alegres por verem que o pai tinha
recuperado a vista.
E de manhãzinha deixaram o acampamento e voltaram para a aldeia.
(É um conto tradicional de Angola - Ilustrações de F. Charneca extraídas da belíssima obra de J.C.Pardal, cuja compra se recomenda vivamente, 'Cambaco II')
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